Rane Guimarães – Teóloga
O ano era 1960, mais especificamente no mês de agosto, dois jovens um de 26 e outro de 24 anos, seus nomes? Milton Terra Verdi e Antônio Augusto Gonçalves. Juntos eles embarcaram no que pensaram ser uma aventura, mas logo se depararam com o então vale da sombra da morte!
Milton havia convidado seu cunhado Antônio para uma viagem de Fernandópolis até a Bolívia, exatos 1.370 km por rota aérea, possuídos com um espírito jovial não pensavam em imprevistos. Tendo apenas um galão de combustível, um refrigerante e um sanduíche ele embarcaram naquilo que parecia ser a viagem de suas vidas, isso em uma época em que a tecnologia não era um auxílio aérea e as rotas eram feitas pelo “olhometro”, ainda assim a coragem fez com que se encontrassem a alguns pés de altitude.
Sem planejamento eles foram pegos de surpresa pelos forte ventos de agosto que os fizeram desviar da rota consideravelmente, restando-lhes apenas pouco tempo de combustível e sua maneira de salvar a si e seu cunhado era o pouso forçado, porém só podiam ver a mata fechada. A Amazônia já não era mais um retrato da exuberante fauna e flora brasileira, mas tornará-se o retrato do desespero.
Sem perder as esperanças uma clareira foi avistada aliviado o assombro e no dia 29 de agosto o pouso foi realizado e a agonia pelo resgate fora iniciada, Milton então começou a escrever aquilo que viria a ser o denominado “Diário da Morte” que aos seus olhos naquele momento não passava de um registro em forma de diário para eventualmente se recobrar de uma grande lição de vida, entretanto esse não foi o verdadeiro fim.
Enquanto Milton e seu cunhado Antônio lutavam pela sobrevivência, o pai de Milton lutava para os encontrar, barrado pelo burocracia e falsas notícias, os dias não terminavam deixando ainda mais o coração aflito de um pai, e assim os dias foram se passando e a fome e a sede os atacando!
124 horas, eles passaram sem beber uma gota de água ou comer uma mísera comida, tudo o que tinham era a companhia um do outro.
Durante os dias que se seguiam a desidratação e destruição os sucumbia e como forma de saciar a sede, que Milton considerava em seus relatórios diários era pior do que a fome, eles se utilizaram da gasolina e da urina levando Antônio a longos episódios de alucinação que o acompanhou até seus últimos momentos e como fruto da inanição Antônio Augusto Gonçalves veio a óbito no dia 7 de setembro de 1960.
Sentindo o grito ensurdecedor da solidão, Milton entra em desespero e relata temer que a morte também lhe alcance e escreve uma carta aos seus família dizendo: “minha querida esposa e dedicada mãe dos meus filhos, primeiramente, peço que me perdoe pelos maus momentos que te fiz passar, vejo agora que tudo não passa de uma ilusão, o que vale mais no mundo é a água, a comida e todo o carinho de nossa esposa e filhos. Saiba que você foi o único amor da minha vida, não duvides porque é um moribundo quem está falando. Nunca deixe ninguém passar sede, pois é a pior coisa do mundo. Quisera apenas ter mais uma chance para mostrar o filho bom que poderia ser , pois fui bem castigado e já vejo a vida por outro prisma completamente diferente.[…] Do pai, marido e filho desesperado, Milton Terra Verdi.”
No dia 5 de outubro de 1960 ao completar 38 dias na solidão sofrendo com a sede e a fome Milton declara que possuí uma esperança ao se recobrar de quem era seu pai e ao fim de cada dia relatado expressa o anseio em ver seu pai vindo resgata-lo daquilo que parecia ser o vale da morte através das seguinte palavras: ” Papai, espero o senhor amanhã.”
Milton mantinha esperança mesmo quando suas forças se esvaiam e quando foi no dia 6 de Novembro suas palavras encerram sua agonia vindo a óbito após 72 dias de pura aflição e agonia. Quando foi no dia 2 de dezembro o serviço aéreo brasileiro localizou a clareira onde estavam, mas o resgate só foi executado no dia 21 de dezembro cerca de mais de um mês do falecimento de Milton.
Esperança quando não há sinal de melhora
Milton e Antônio jovens que sentiram a dor do aparente abandono, não fosse a esperança retomada na lembrança do pai Milton teria se entregado ao se deparar com a solidão. Nem Antônio nem Milton eram discípulos para sofrer tal martírio, mas no contexto de sua vidas relatadas e suas mortes documentado por eles mesmo é possível de se refletir naquilo que também parecia ser um abandono de Jesus ao seu mensageiro fiel, a voz que clamava no deserto que também era seu primo.
João (batista) foi aquele que entregava tudo não julgando ser sua vida mais importante do que a missão que veio a cumprir, abdicou o que era e o que poderia ser para proclamar sobre aquele que iria nascer incumbido de libertar cativos, curar enfermos, saciar a sede e perdoar pecados.
Porém acometido pelo poderio de Herodes o tretarca, João agora se via em uma prisão e a mesma boca que preferia “Eis o cordeiro de Deus” (Jo 1:29) era a que dizia, “És tu aquele que estava para vir ou devemos esperar a outro?” (Mt 11:3). Seus lábios que deram início a missão de Jesus, agora pedia-lhe confirmação.
Enquanto passava seus dias isolado tendo apenas a visita de seus discípulos ouvia sobre os milagres de Cristo, porém se questionava do porque também não era ele alvo da intervenção divina. Seu coração se encontrava entristecido ao pensar que fora abandonado.
Todavia a resposta de Jesus aos discípulos de João seguia em lhes apresentar mais curas e milagres, recebendo um relatório do dia de Jesus, João se recobrou da verdadeira missão do Salvador, compreendendo que o mesmo cálice de Cristo lhe era servido!
João compreendeu que nunca fora abandonado, mas que como participante do mistério de Cristo sofreria as mesmas coisas consequências de Cristo, pois “mesmo que venham a sofrer porque praticam a justiça, vocês serão felizes. “Não temam aquilo que eles temem, não fiquem amedrontados.” Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês.”( Pedro 3:14-15 NVI)
João, o fiel defensor da Justiça foi então sendo recobrado de cada momento que tivera com Cristo, o redentor e imediatamente a fé e confiança apoderou-se de seu coração e mente, fazendo com que homem algum jamais fosse comparado a João( Mt11:11). Pois sem ser alvo de nenhum ato milagroso manteve sua fé sabendo que não fora abandonado.
Se hoje você se questiona perguntado, “Deus onde está você na minha dor? Onde está você no meu sofrimento?” Saiba que mesmo que tal intervenção não seja vista aos seus olhos lembre-se do pai de Milton, que na dor é ausência do filho o buscava de dia e de noite não importasse o que fosse.Deus como pai é aquele que que traçou um plano de resgate e os dias para ele não são de descanso até que você seja resgatado, por mais que a morte venha lhe alcançar, saiba que ela não é o fim!
A minha pergunta não se direciona a Deus, sobre onde ele está durante a minha dor, e sim onde eu estou! Onde você está quando a dor se torna presente, onde você se encontra quando os dias já não são mais ensolarados e sim chuvosos, onde está a sua esperança?